irreparable dream
Sonhos de papel. @divineintention




posted : segunda-feira, 1 de novembro de 2010
title : Anything can happen in London.

Londres, Janeiro de 1982.

Era inverno na capital britânica. O frio enchia os poros das almas vazias que por ali vagavam. Melanie estava em êxtase com o clima mais perfeito para ela. Só que o seu coração, infelizmente, não caminhava no mesmo ritmo. E sim descompassado, infeliz. A muito se perguntava o que significava o amor, aqueles lampejos de sentimentos incomuns que se passavam nos filmes. Como ela iria julgar? Sendo assim tão incoerente quanto tal. Nunca provara nada do tipo, como uma boa moça da época. Nos seus jovens dezessete anos tudo que ela vira fora seus pais se abraçando num dia qualquer.

O que aquela bela e formidável garota não tinha conhecimento era de um certo rapaz formoso que lhe rondava havia muito anos, encantado com sua inspiração. Seu melhor amigo, Harry. Um garoto de alta estatura e pouca massa corporal, mas de um coração brilhantemente encantador. Coragem lhe faltava em montanhas para declarar-se, o medo de pesar sobre a amizade caía-lhe pelas costas.

Melanie mais uma vez caminhava para sua rotina diária, acordar ao nascer do sol com um banho relaxante e se refugiar do frio em meio a cobertores, café com leite e uma leitura doce com Harry. Eram assim todas as quartas-feiras, também nos sábados. Onde seu amigo a admirava incontável vezes, sem a sua percepção. Enquanto a voz rouca e encantadora de Melanie preenchia os ouvidos de Harry, com aquelas palavras tão apropriadas para o momento.

Debaixo do cobertor imposto a todo o corpo da jovem, Harry entrelaçou sua mão na de Melanie, com um sorriso tímido nos lábios. A garota não hesitou, aquilo era rotina. Mas naquele dia em especial seu amigo a olhava profundamente, em suas orbes verdes misteriosas, encaixando uma mexa do seu cabelo fino na cor chocolate atrás de sua orelha. O choque térmico entre ambas as peles foi nítida, Melanie começou a arfar. Ela não estava acostumada com aquilo.

Harry não hesitou, mesmo ponderando em algumas partes. O medo da rejeição percorreu sua espinha, mas ele precisava dizer isso a ela. Não, ele necessitava. Mas do que dormir, comer ou rezar. Seu coração não suportava mais ficar apenas na defensiva, ele queria experimentar o novo, o desconhecido. Então, num átimo, sua mão direita encostou-se ao rosto pálido e branco de Melanie. O coração dela iria saltar a qualquer instante do peito. Sua falta de prática, ou nenhuma prática, a fez revelar o inesperado em murmúrio baixo entreolhando-o: “ Eu... Eu... Não sei fazer isso. Desculpe.” Pacientemente, Harry lhe retribuiu o sussurro: “Eu te ensino, Mel. Não deveria ter guardado isso por tanto tempo.”

E então suas mãos ganharam vida, encaixando o rosto minúsculo e bem desenhado de Melanie em suas mãos desajeitadas. Ele fechou os olhos, esperando que ela fizesse o mesmo. Quando o fez, Mel apenas sentiu o encostar de lábios silenciosos. Harry foi devagar, dando o ritmo adequado aquele beijo de entrega. Eles se renderam entregando um ao outro o amor que tanto refrearam.

De repente o coração de Melanie já não era mais vazio. Preencheu-se com aquele sentimento sublime e esmagador que só os poetas sabem descrever. E como reposta do último sussurro de Harry, ela falou entre ambos os lábios: “Não. Não deveria.”

As quartas e os sábados jamais foram os mesmos.


Obs.: Para quem anda me perguntando incansavelmente: Todos os textos aqui postados são de minha autoria. Então não copie, você também tem capacidade de fazer algo plausível.

Beijos, Manuela Leal (@divineintention)

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1 Comentários

1 Comentários:

Às 1 de novembro de 2010 às 16:19 , Blogger Sofia I. disse...

Depois desse, nunca mais me atrevo a tentar escrever.

 

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