irreparable dream
Sonhos de papel. @divineintention




posted : domingo, 23 de janeiro de 2011
title : Love hurts.

As horas passavam lenta e dolorosamente no relógio da cozinha. Melissa se torturava por estar se sentindo vazia sem a presença dele. Antes era tudo diferente. Ele sempre fazia questão de chegar cedo, de cheirar o seu pescoço e dizer o quanto a amava. Hoje ele estava há três horas atrasado para o jantar que ela fizera, inutilmente, ao seu marido.
Quando tudo havia mudado?
Essa era uma das perguntas que Melissa se fazia durante algumas semanas. Além de “O que eu fiz de errado?” ou “O que eu não fiz?”. São nesses momentos que a insegurança feminina fica visivelmente escancarada.
Mas ela o amava tanto. Tanto. Ela o ama.
Ama o seu cabelo bagunçado, que ele faz questão de bagunçar ainda mais quando está nervoso. Ama quando ele franze a testa estando com alguma dúvida. Ama o seu jeito inseguro de pedir desculpas. Ama a sua pele branquinha. Ama os seus olhos misteriosos, que mesclam entre o verde e o azul. Ama o seu rosto amassado quando acorda. Ama quando ele é grosso e depois faz de tudo para se redimir... São tantas as coisas que ela ama naquele homem.
Anthony era um rapaz de sorte. Ele se casou com uma mulher extraordinária, mas as coisas não andavam bem nos últimos meses. Anthony tinha os seus motivos.
Um barulho. Um molho de chaves. A porta sendo aberta. Melissa sorri logo de primeira, mas se lembra do atraso estrondoso do marido. Ela não queria discutir, porém as coisas estavam passando dos limites.
Ambos se encaram. Anthony percebe mais uma de suas camisas no corpo de Melissa, ela tinha essa mania. Ele sorriria se desse tempo.
– Posso saber onde estava até essa hora, Anthony? – Ela exclama com a voz ainda calma.
– Boa noite, Melissa. – Anthony rebate aparentando cansaço em sua voz.
– Não vai me responder, não é? – Melissa fala para o vento observando o marido jogar as coisas pela sala e ir em direção ao quarto. O silêncio reina no cômodo. Então grita: – Ótimo, não responda!
Em passadas cansadas ela vai até a cozinha, prepara um leite quente e toma tudo. Repete como um mantra em sua mente “Não se altere, Melissa Sparks” “Não se altere, Melissa Sparks”.
Enquanto controlava o subconsciente, ela não conseguiu controlar as próprias lágrimas que vinham silenciosas por seu rosto branquinho e corado. Ela não sabia mais o que fazer.
Sem querer se revelar fraca, Melissa entra no banheiro principal e se tranca lá dentro. O choro agora vinha acompanhado de soluços. O que diabos estava acontecendo com os dois?
A água do chuveiro batia forte nas costas cansadas de Anthony, ele estava exausto. Desejou com todas as suas forças que junto com a água que descia no ralo fossem os seus problemas.
Ele queria tanto beijar dolorosamente aquela mulher e esquecer de tudo. Ele a queria tanto. A ver sofrer desse jeito era um castigo, mas Anthony sabia que merecia.
Melissa acalmou seus soluços e pensou no que Anthony estaria fazendo.
Era outra? De repente ela pensara nessa possibilidade mesmo nunca a cogitando... Então era isso? Uma amante? Ela não podia estar mais furiosa. O que ela tinha de errado? Era magra demais? Gorda demais? Todos os defeitos que Melissa não possuía passaram por sua mente confusa e vazia.
No quarto, Anthony abre o notebook e resolve terminar algumas planilhas, eles já estavam em uma situação deprimente... O que de pior poderia acontecer, afinal?

O que ele não sabia é que o pior estava prestes a começar.

A porta do quarto é aberta num rompante, Anthony se assusta e olha fixamente para a mulher pequena, dos cabelos pretinhos e do sorriso mais lindo que ele já viu. Mas ali não havia nenhum sorriso, seu rosto estampava a marca de horas de choro, ainda vermelhinho e inchado. Melissa percebe a observação exagerada do marido, leva as duas mãos ao rosto limpando contra a própria vontade as lágrimas ainda ali presentes. Antes que se arrependa do que vai fazer, ela diz num sussurro embargado:
– Ela é bonita? – Melissa tenta esconder seu rosto, por vergonha.
– O que... O que diabos você está falando, Melissa? – A voz de Anthony sai confusa, complicando ainda mais as coisas.
– Desde quando, Anthony? – Ela altera um pouco a voz, mesmo nunca tendo feito isso. – Responde! DESDE QUANDO?
Anthony se assusta com os gritos de Melissa. Por que ela estava fazendo aquilo? Agora sim ele era um completo idiota.
– Você pode se acalmar? – Ele diz levantando da cama e indo em direção a ela.
– Então você dorme com outra e eu tenho que me acalmar? É isso mesmo? – Melissa grita ainda mais alto e dá um passo para trás quando percebe a aproximação de Anthony. – Não toque em mim.
– Mel, por favor... Você está entendendo tudo errado... Eu... – Ele é cortado por explosões de Melissa.
– Você nada. É claro que eu não estou entendendo, Anthony! Tem semanas que você não me toca, mal olha pra mim... Me diz o que diabos você quer que eu pense? Fala comigo! – Ela começa a chorar novamente, gaguejando um pouco com as palavras. Anthony se sente ainda mais culpado por tudo aquilo.
Como ele permitiu que chegasse a esse ponto? Como ele permitiu que ela tirasse essas conclusões erradas? Vê-la desse jeito, tão indefesa... Era loucura achá-la ainda mais linda? Como ela poderia sonhar que ele tocasse outra mulher? Sequer pensasse?
– Eu não acredito, Melissa. Consegue perceber o que está dizendo? Quero entender o que te levou a pensar que eu tocaria em uma mulher... Uma mulher que não fosse você. A minha mulher. Está delirando? Me desculpe por essas semanas, eu não queria admitir algo para você e acabei errando. Me perdoe por ter feito você pensar tudo isso de mim. Eu te amo. Jamais pensaria em outra pessoa. Jamais. – Anthony dizia tudo aquilo enquanto Melissa voltava para a superfície. Ela estava sendo tão infantil. Oh, Deus. Como ela amava esse homem. O que mesmo ele tinha dito? Ah, claro.
– Anthony... Tony... Eu... Venha aqui. – Melissa não precisou dizer mais nada, ele a tomou pelos braços quentes. Ela aspirava seu cheiro ferozmente, seu cheiro de maresia. De lar. De amor. Anthony fazia o mesmo com os cabelos de Mel, sua Mel. Ele sentira tanto a sua falta. Ambos desfizeram o abraço e se entreolharam, ele se abaixou um pouco na direção dos lábios dela, como um convite para a perdição. Mas Melissa tinha coisas a esclarecer.
– Antes me diga, Tony. Pelo amor de Deus, me diga o que está acontecendo... Eu te amo tanto e te perder desse jeito me deixa sem chão. Conte-me tudo Anthony. Eu mereço saber. Não acha? – Ela dizia controlando-se para não agarrá-lo ali mesmo, antes dele explicar tudo.
– As ações da empresa estão caindo... Eu sou o único culpado por isso... O grupo novo de funcionários foram por meu contrato, Mel. Eu estou falindo a empresa e isso é um fardo grande demais para que eu possa suportar sozinho. – Disse enquanto fazia carinho nas bochechas coradas do choro recente daquela tão linda em sua vida.
Melissa se chutou mentalmente por ter idealizado tantas coisas ruins naquela noite. Ela estava tão errada... Ele precisava dela e ela só fazia ignorá-lo.
O levou até a cama e sentou em seu colo, com as mãos emaranhadas nos fios rebeldes daquele cabelo lindo.
– Por que não me disse isso antes? Hmm? Você sabe que ninguém é culpado por nada que acontece no mundo, Tony. As coisas são apenas reflexos de nossas ações. E se a empresa falir foi porque ela tinha que falir, amor. Vou estar do seu lado para te ajudar a levantar. Mas como eu sei que isso não vai acontecer... Eu aproveito para encher o seu ego, querido.
– Eu sei que vai... Eu te amo. Me perdoe. – Anthony repetia hipnotizado com os olhos verdes de Melissa.
– Shi, vai ficar tudo bem. Eu amo você. – Ela sorriu, deixando Anthony ainda sem ação com o sorriso mais lindo do universo bem ali, na sua frente.
– Agora eu posso...? – Falou num sussurro chegando perto dos lábios delicados de Melissa, em um aviso claro do que ele queria.
– Deve.

E a beijou.

Dizendo tudo que não poderia falar, fazendo tudo que não poderia fazer.

Mostrando tudo para ela.

Porque ela era isso.

Tudo.

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2 Comentários

2 Comentários:

Às 30 de janeiro de 2011 às 20:42 , Anonymous Anônimo disse...

a riqueza de detalhes nessa trama impressiona... parabéns e continue assim sempre.

 
Às 31 de janeiro de 2011 às 08:49 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei muito desse estilo de conto , faça sempre desses manu :)

Luisa N.

 

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