irreparable dream
Sonhos de papel. @divineintention




posted : quarta-feira, 7 de setembro de 2011
title : broken hearts

Londres. Um pub qualquer. Frio. Heineken.

Duas pessoas desconhecidas, mas que tinham algo em comum: Um coração partido.

Já era a terceira cerveja da noite para Antony, no balcão daquele pub sujo, magoado e quebrado. Ele achava que poderia se afundar naquele líquido viril, só que estava enganando a si próprio.

A alguns minutos uma garota rompera a porta e sentara ao seu lado, incomodado e preocupado demais em mostrar-se forte, ele fez um grande esforço para não notá-la, que foi quase impossível pois os olhos dela – os olhos bem verdes dela – estavam vermelhos e sua expressão era de choro.

Estranho demais uma mulher em um pub, à essa hora da noite, sozinha e ainda chorando. Antony preferiu ignorar e continuou a engolir sua Heineken que descia queimando e abafando sua dor.

Ela tinha que chutá-lo dessa maneira? Tinha que dizer na sua cara tudo aquilo?

Eu amo outra pessoa, Antony. Sinto muito, você não sabe amar.

Você não sabe amar.

Aquelas malditas palavras soaram tão altas em sua mente que ele balançou a cabeça para expulsá-las. A garota ao seu lado causava um certo incômodo, ele não poderia se mostrar fraco.

Mallory não conseguia parar de pensar em como foi estúpida todo esse tempo, como não tinha percebido que ele estava tendo um caso?

Seus olhos marejaram novamente, então ela respirou fundo e pediu o mesmo que o cara ao seu lado estava bebendo. Quem sabe bêbada ela não fosse capaz de matar aquele a quem tinha dado tudo? Aquele a quem ela tinha dado o seu bem mais precioso... Seu coração.

Este, que se encontrava deploravelmente espatifado.

- O que deseja? – O rapaz do outro lado do balcão, com uma toalha suja estendida no ombro, questionou de forma rápida.

- Uma... – Ela deu uma olhadela no nome da cerveja do cara ao seu lado – Heineken.

Sua voz tinha saído incrivelmente rouca, Antony percebeu e foi incapaz de não se virar para aquela voz doce e tristonha.

Só agora ele pôde realmente visualizá-la. Cabelos castanhos, olhos incrivelmente verdes, maquiagem borrada. Apertava o sobretudo preto sobre seu pequeno corpo, parecia sentir um frio absurdo.

Mallory notou que estava sendo observada e encarou seu admirador, fitando-o com sarcasmo. Antony riu de sua expressão e ela arfou disfarçadamente com aquele som agradável, os olhos bem azuis dele grudaram nos seus, meio moles. Ele também parecia fraco.

- O que uma mulher como você faz nesse lugar? – Antony arriscou depois de dar um gole na cerveja gelada. Mallory lhe entregou um sorriso amarelo.

- Sendo chutada. – Falou sem pensar piscando forte e mordendo o lábio inferior. Sempre falando demais.

- Então brindemos. – Ele levantou a sua garrafa e apontou para a de Mallory que estava no balcão a um bom tempo, mas ela estava ocupada demais com olhos azuis para notar.

- Isso é uma piada, não é? – Então, pela primeira vez na noite, ela riu. Antony ficou sério, notando como o som de sua risada o provocava.

- Não. – O sorriso de Mallory se desfez e ela prestou bastante atenção em seus traços, ele também parecia frágil, só que não tanto quanto ela.

- Vamos brindar ou não? – Tentou descontrair, encostando seu joelho no dele, fazendo-o tremer com o contato.

- Claro. – Ele sorriu tirando o fôlego de Mallory, ela queria enfiar os dedos naquele cabelo desgrenhado.

Os dois seguraram suas garrafas, certos daquele poço de sensações.

- Aos nossos corações na mesa. – Antony falou e o barulho das garrafas trincando soou forte.

Mallory sentiu um aperto no coração, não só por ele, por ela também.

- Mallory. – Resolveu dizer logo o seu nome.

- Antony. – Sussurrou após beber mais da sua Heineken.

- É ótimo saber que não estou sozinha nessa. – Fez piada de sua própria desgraça, tomando de sua cerveja e experimentando o gosto da rejeição.

- Não, não está. – Antony disse com certa convicção, observando Mallory colocar uma mexa atrás de sua orelha e de repente ele quis fazer aquilo por ela.

Ela percebeu o olhar faminto dele em sua direção, o ar se tornando rarefeito. Tratou de engolir nervosamente boa parte do conteúdo daquela garrafa verde.

Ambos passavam em suas cabeças como diabos poderiam ser chutados daquele jeito. Mallory perguntava a si mesma qual a desequilibrada que fez isso com Antony e ele não parava de querer socar a cara do desgraçado que a tinha feito chorar.

- Quer ir para outro lugar? – Antony sussurrou, observando que o pub estava ficando mais cheio e desconfortável para uma dama.

Era a deixa certa para Mallory que nada disse, apenas assentiu com a cabeça e o acompanhou, admirando sua altura e divertindo-se com a camiseta nerd que ele usava. Seu cabelo apontava para todos os lados numa confusão adorável.

Passaram pela porta do pub e Mallory esfregava suas mãos, os graus a menos fazendo uma real diferença. Ela encostou-se à parede com tijolos vermelhos e tirou um cigarro da bolsa, ela precisava se acalmar e a presença daquele homem não estava ajudando.

Antony se aproximou com as mãos no bolso da calça, sorrindo e a admirando tragar seu cigarro com gosto.

- Quer um? – Mallory perguntou absorta em seus olhos azulados.

- Não. – Ele chegou mais perto, queimando os pulmões dela com seu cheiro misturado a nicotina.

Mallory não teve muito tempo para pensar e logo seu cigarro estava na mão dele.

- Eu quero o seu. – Então ele levou o cigarro até a porra dos seus lábios, tragando e fechando os olhos. Soltando a fumaça direto no rosto dela, entorpecendo-a.

Qualquer dor fora esquecida.

A única coisa que importava nesse momento eram os cabelos desgrenhados dele dominados pelas mãos delicadas de Mallory e a combinação incrível do cheiro de ambos com nicotina.

Antony não perdeu tempo em imprensar Mallory na parede do pub, jogando o cigarro em algum canto dali.

Suas mãos habilidosas seguraram a cintura fina dela e a puxaram mais para si. Completamente sóbrios, seus lábios se chocaram sem delicadeza, a língua de Antony enroscando-se com a de Mallory numa ferocidade única.

E lá estavam aqueles dois corações partidos, reconstruindo-se juntos.

Só que desta vez para nunca mais quebrar.


4 Comentários

4 Comentários:

Às 7 de setembro de 2011 às 12:19 , Anonymous Anônimo disse...

Muito foda (h)

 
Às 9 de setembro de 2011 às 06:26 , Blogger Lisa disse...

Belo texto, Manuela!

 
Às 5 de janeiro de 2012 às 12:46 , Anonymous Bruna Lobato disse...

Muito bom. Como tudo que você escreve né? Me deliciando muito com seus contos aqui e querendo logo extras de ATS *---*

 
Às 22 de abril de 2012 às 10:43 , Anonymous Beatriz disse...

Pena que é um conto...
Muito bom, Manu!

 

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